domingo, 18 de setembro de 2011

Feirense-F.C. Porto 0-0 (crónica)

"O campeão perdeu os primeiros pontos e alimentou o clássico da próxima jornada com o Benfica: há vários tópicos para a discussão.

O F.C. Porto deixou dois pontos em Aveiro, e naturalmente essa é a notícia mais relevante. Mas pode até nem ser a pior: é impossível esconder, por exemplo, um certo conformismo perante a falta de inspiração. A equipa lutou e correu, é verdade, mas encontrou mais problemas do que soluções.

Há uma imagem sintomática, aliás: por volta da hora de jogo, durante uma paragem para assistência a Carlos Fonseca, olhava-se para o relvado e via-se os jogadores de mãos na cintura, olhar no vazio e cara de preocupação. Eles próprios, se calhar como mais ninguém, sentiam o peso da desinspiração.

Até ao final do jogo, de resto, nunca se percebeu que pelo menos um ponto estava garantido: do primeiro ao último minuto, o Feirense foi uma ameaça séria. Dividiu a capacidade de luta, a vontade de ir mais longe do que o empate e até as oportunidades de golo. Algumas bem flagrantes, de facto.

Bem vistas as coisas é impossível desligar este atrevimento de um efeito causal no resultado: à medida que a formação de Quim Machado criava uma boa ocasião de golo, a consequência natural era deixar o F.C. Porto mais nervoso. Como um aristocrático, parecia acusar o descaramento da plebe.

A expulsão de James é disso o melhor exemplo: perdeu a cabeça e esboçou uma agressão. Pôs-se a jeito, portanto: o resto foi critério do árbitro. Um erro que lhe vai custar caro, até porque significa que não joga com o Benfica no clássico da próxima semana. Uma má notícia, realmente, nunca vem só.

Vítor Pereira complica o que é fácil

O primeiro empate portista na Liga, após quatro vitórias que pareciam embalar o campeão, trouxe outra evidência: um jeito muito português de complicar o que é fácil. Neste caso, de Vítor Pereira. Já se sabe que às vezes há treinadores que gostam de ver mais longe do que toda a gente, de inventar soluções.

Ora o que Vítor Pereira fez foi exactamente isso: jogou toda a segunda parte sem um ponta-de-lança de raiz. Procurou a fórmula de chegar ao golo num futebol apoiado, e feito de dinâmica, quando o F.C. Porto carregava, colocava bolas na área e buscava o golo mais com o coração do que com a cabeça.

Todo aquele caudal pedia um homem fixo na área, à procura de um cruzamento, de um ressalto, de uma bola perdida. Até porque os médios, este domingo, nunca foram a solução. Desde a primeira parte, aliás, o futebol portista emperrou logo na zona de construção, num futebol lento e muito denunciado.

Sem marcações individuais, o Feirense ia preenchendo os espaços e fazendo-o bem. Sem velocidade, sem improviso do adversário, ficava muito mais fácil. O que Vítor Pereira quis depois foi criar uma virtude a partir de onde estava o defeito: na dinâmica de um meio-campo desinspirado. Não funcionou, claro.

Pelo meio vale também a pena lembrar que faltou Hulk a esta equipa: faltou aquela capacidade de furar, de levar a equipa para a frente, de esticar o futebol em meia-dúzia de passadas largas. Faltou tudo, e faltou Hulk. O que pode muito bem alimentar a discussão em torno de uma Hulk-dependência.

Por falar em discussão, vale a pena terminar com outra notícia óbvia: o F.C. Porto falha o objectivo de chegar ao jogo com o Benfica só com vitórias. O que é mais um tópico para a discussão. Mas há mais: o ano passado, antes dos 5-0 no Dragão, o F.C. Porto também tinha empatado. Na altura com o Besiktas. Enfim, a discussão vai aquecer."

em "maisfutebol.iol.pt"

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